quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

sobre a força dos sentimentos

Eu sempre soube o que queria e para onde ia e lutava por isso com unhas e dentes. Uns admiravam-me e outros não podiam comigo (mais outras do que outros, é um facto, é que as gajas são tramadas). Ainda hoje é assim.
Mas houve uma vez, uma única vez, que vacilei. Que de repente não sabia o que queria, como queria, quem queria. Que estranhava cada reacção, que não me reconhecia, que tremia a cada vez que o meu corpo e o meu coração reagiam a algo que eu não estava à espera.
E tudo isto por causa de um amigo. Um amigo que era amigo e sempre foi amigo. Até que deixou de ser. Até ao dia em que olhou para mim de maneira diferente, a partir do dia em que conheceu o que havia debaixo de tanta altivez e provocação, o que havia por detrás das piadas maldosas, dos risos constantes. Um amigo que sabia o que me fazia chorar, o que me fazia perder o sono, o que me conquistava num minuto. Um amigo que dava os melhores abraços de sempre e que tinha mais paciência para mim do que todas as minhas melhores amigas juntas. Esse amigo fez-me fazer uma coisa que eu jurei que nunca iria fazer na vida e que, isso posso garantir, nunca mais farei. O problema é que há alturas da vida em que as coisas nos acontecessem para nos fazer crescer, em que só surgem para nos desmontar e nos fazer descer do cavalo, em que precisamos de passar pela maior das dores para sermos mais humildes e percebermos que todas as certezas de um dia serão todas as dúvidas do dia seguinte.
Esse amigo que eu tenho perdi-o durante dois anos. Dois anos inteirinhos em que só reinou o silêncio, uma dor que sufocava. Porque pior do que perder um amor é, para mim, perder um amigo. Porque, se na altura nem sabia o que é isso de sentimentos puros, já sabia o que era a amizade. E ele sabia disso e o coração dele disse-lhe que a melhor maneira de castigar as minhas incertezas era fazer-me acreditar que a amizade tinha ido pelo mesmo caminho daquele amor que não se cultivou.
Mas este amigo não é como os outros e esta amizade não tem o mesmo valor que as outras porque este não se pode medir. E depois voltamos a ver-nos, voltamos a sentir o abraço, voltamos a trocar o olhar que não precisa de ser acompanhado de palavras. E ficou esta certeza de que os rumos da vida nunca nos levarão para longe porque entre os corações não há distância.
E como as maiores das dádivas se encontram no silêncio, foi bom comprovar a genuinidade desta amizade ao descobrir que, no silêncio dos dias e sem precisar de me dizer nada, me acompanha, interessa-se e me procura. Aqui.
Sim, este meu amigo não é como os outros.

Sem comentários:

Enviar um comentário