Não nos podemos instalar simplesmente nas vitórias de ontem, nos saberes adquiridos de um dia, nas experiências de uma determinada etapa. O recomeço supõe uma abertura esperançada em relação ao hoje, encarando-o com a pobreza e a ousadia de quem aceita, depois de ter percorrido já uma estrada, considerar que está novamente, e que estará até ao fim, a viver sucessivos pontos de partida.
Neste sentido, precisamos de jogar a vida no aberto, mantendo uma plasticidade interior que é um grande investimento de confiança no modo como Deus se vai manifestando a cada momento.
Talvez precisemos todos escutar mais profundamente a vida para captar essa novidade que nos chega por dentro, esse refazer das disposições interiores, essa rejuvenescida vontade de nos pormos à estrada, quando a tentação que nos sobrevém, a dada altura, é a de nos arrumarmos num canto qualquer.
Há aquela frase exigente e fantástica que o D.Quixote repetia: “vale mais o caminho do que a estalagem”. Setembro abeira-se de nós assim, desafiando-nos não a um regresso à estalagem, à zona de conforto, à vida tornada mais ao menos maquinal, mas a expormo-nos aos reinícios autênticos, ao refazer humilde e apaixonado do nosso labor, às aprendizagens que nos avizinham silenciosamente do definitivo escondido no provisório que tateamos.
José Tolentino Mendonça
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