quinta-feira, 25 de março de 2010

As 5ªs de manhã: Lição nº4

O MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS
(antes de tudo, dizer que não há palavras para descrever o que estes Jerónimos provocam em mim)


Data de 1496 o pedido feito pelo rei D. Manuel I à Santa Sé, no sentido de lhe ser concedida autorização para se erigir um grande mosteiro à entrada de Lisboa, perto das margens do Tejo.
As razões da construção do mosteiro prendem-se com a vontade do monarca em reunir em panteão o ramo dinástico por ele iniciado: os Avis-Beja.
O Mosteiro dos Jerónimos veio substituir a Igreja de Santa Maria de Belém, no mesmo local, onde os Freires da Ordem de Cristo prestavam assistência aos mareantes em trânsito.
Apontado como a jóia do estiloo manuelino, foi declarado Monumento Nacional em 1907 e, em 1984 foi declarado "Património Cultural para toda a Humanidade".

Era, então, a época do Renascimento. Nesse amplo contexto cultural e científico se construiu o Mosteiro de Santa Maria de Belém, doado aos monges jerónimos, por vontade de D. Manuel I, em cujo reinado, na primeira metade do século XVI, se atinge a Índia "por mares nunca dantes navegados" (Os Lusíadas, I, 1), chegando-se ao conhecimento de terras e povos longínquos, abrindo Portugal e, através dele, outras nações, ao contacto com novas civilizações e espaços geográficos até então desconhecidos.
A consciência da grandeza dos momentos que se viviam e da repercussão dos mesmos na sua imagem de monarca, investido assim de tão grandes poderes, que até metade do mundo lhe ficara a pertencer pelo Tratado de Tordesilhas, leva o rei D. Manuel I a encetar todo um conjunto de acções, por forma a explicitar a sua autoridade, a que dá um cariz imperial e messiânico.
Aliás, esta atitude não aparece dissociada do que acontecia um pouco por toda a Europa, em que o poder e a ambição dos grandes senhores leva a uma preocupação concertada pelo engrandecimento pessoal e fortalecimento da autoridade, não só do ponto de vista económico ou político mas também no domínio cultural, investindo para isso na prática do mecenato, facto que constituiu uma das causas dinamizadoras do movimento humanista renascentista.
D. Manuel I é então o mecenas de empreendimentos nos quais se projecta, dotados de uma grandiosidade proporcional ao seu poder, destinados a despertar admiração e respeito.

Exemplo paradigmático é a construção do Mosteiro dos Jerónimos e a escolha da ordem de S. Jerónimo para o habitar - a mesma que em Espanha atendia espiritualmente a casa reinante - os quais se tornam sintomáticos dessa legitimação de um poder real centralizado, que através da unificação ibérica, viável pelo casamento do rei de Portugal com D. Isabel, filha dos Reis Católicos, o tornava herdeiro dos reinos peninsulares e o levaria a dominar o mundo, reunindo assim o que o Tratado de Tordesilhas separara.
Na linha de pensamento subjacente à política régia que vai tomar forma no Mosteiro dos Jerónimos, encontramos toda uma profusão de motivos decorativos, a que no seu conjunto chamamos Manuelino, que constituem uma arte de regime ideológico.

Com vista à afirmação e manifestação do poder real, identificam-se determinados tipos iconográficos: os retratos régios estrategicamente colocados nos principais locais como o Portal Principal, onde estão as estátuas dos monarcas cônjuges; a esfera armilar muitas vezes duplicada, a cruz da Ordem de Cristo e o escudo régio, sistematicamente associados e profusamente distribuídos, que coabitam com motivos religiosos.
Também a figura de D. Manuel I, no registo superior do Claustro, está rodeada de outras estátuas de Santos e Virtudes colocadas num plano de igualdade, como que querendo significar a aura divina da personagem real.

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