terça-feira, 29 de março de 2011

sobre a possibilidade de existir um mundo sem drogas:

Dizia a Professora, na aula sobre este tema, que é impossível que lhe fiquemos indiferentes. Poderá, até, haver alguns assuntos sobre os quais não temos opinião mas que, em relação às drogas, todos temos alguma coisa a dizer.
E é por isso que sei que este meu post vai munido de subjectividade, ciência zero, e (concerteza)cheio de romantismo. Isto porque tendo, sempre, a pensar nas drogas como consequência de vidas infelizes, como ausência de capacidade de antecipar caminhos melhores, meios mais eficazes e fins menos dolorosos.

E talvez seja por isso que me é tão difícil imaginar um mundo sem drogas: porque o vejo como cada vez mais infeliz, mais desesperançado, mais acomodado ao fácil e rápido, menos lutador. Como se hoje em dia todos tivessemos mudado o chip para qualquer coisa como "nasceste para ser feliz, diz não ao sofrimento, não há necessidade de passares por essas coisas"... e este chip toca desenfreada e constantemente não só perante dificuldades sérias como, também, perante a mínima contrariedade.

Quase que parece que todos, por uma razão ou outra, procuramos o motivo para nos escondermos, anestesiarmos, bloquearmos. Um desejo de sermos invisíveis ou mais visíveis, um desejo de calar ou de gritar mais alto... todos parecem correr sem saber para onde, procurar sem encontrar, querer sem lutar.

Assim, e perante um mundo em que nem nós acreditamos, como podemos pensar em retirar o pouco que vai conferindo, a uns e a outros, uma ténue falsa sensação de controlo e de alívio?

Podemos tentar, mas sem outras intervenções de fundo de nada nos valerá.

Seria preciso um "educar para a infantilidade", aquela proeza que só as crianças conseguem que é a de aproveitar cada minuto dos seus dias ao máximo, ver e esperar o que é bom, esforçar-se por agradar. Penso que só essa capacidade (que é difícil, mas atingivel) permitiria que as drogas se tornassem em algo completamente ridículo e dispensável, quase dessem vontade de rir, e os remédios (que tão úteis nos são) não constituissem perigo de adição para ninguém.

segunda-feira, 28 de março de 2011

já que falei em MEC

fica aqui um excerto de um texto dele que me fez rir:

"De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém),como é que a Europa nos vai querer integrar? Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar. Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz)."

Se quiserem ler todo, passem aqui.

domingo, 27 de março de 2011

eu já devia saber

É que a vida é mesmo assim, nunca nos deixa mal.
Num dia tão difícil para mim como o de 6ª feira, num mix de emoções e bateres descompassados do coração, fui presenteada com o convite para ser a madrinha de baptismo do meu primo António.
Fiquei tão contente, emocionada e (agora que penso nisso) assustada, que passei o resto da noite meio anestesiada.
E, daqui a um mês poderei deixar a verde, ali ao lado, mais um sonho realizado!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Querida Avó,

para a Avó, hoje é mais um dia. Igual a todos os dias do último ano e meio. Vai estranhar estar tanta gente ali à volta, por uma casa que não reconhece, mas que é a sua de toda a vida. Vai ficar cansada do barulhão que fazemos. Os seus filhos tão crescidos, já avós, nós os netos desmiolados, alegres, com tanto amor por si, e todos os bisnetos, que não passam dos 6 anos, mas que já são muitos e, infelizmente, não se vão lembrar dessa sua alegria, dessa sua grandeza, da doação de si própria.
Daqui fala-lhe a neta que sempre se intitulou como a sua preferida e que, com estas coisas disparatadas, arrancava gargalhadas e a deixava atrapalhada a tentar explicar-me que não tinha preferidos e que gostava de todos igual, ao mesmo tempo que não me queria deixar triste e fazer-me sentir especial.
Mas, para mim, hoje não é mais um dia. Nem igual aos outros. Este dia faz-me lembrar de todos os outros dias 25 de Março em que ia mais cedo para casa da Avó ajudar a levar as coisas para a mesa, ajudar a Maria a acabar tudo, em que lhe dizia como estava linda por ter ido ao cabeleireiro, em que a esborrachava de beijinhos e dançava consigo.
Eu, querida Avó, tenho muitas saudades suas. Tantas que dói. Tantas que, maior parte das vezes, me esforço por não pensar nisso para que me seja possível ir suportanto a espera do dia em que coração da Avó se vai cansar de estar assim, deitado nessa cama, e percebe que há um sítio melhor onde pode bater.
Quero, hoje, dar Graças pelos seus anos de vida. Por tudo aquilo que me foi dado a aprender e crescer por ter convivido com alguém como a Avó tão de perto, tão intensamente, com tanto amor.
Houve um dia de Julho que me despedi de Avó e disse que ia passear pela Ásia. Ouvi as perguntas e queixumes de sempre, de por que é que precisamos de ir para tão longe com tantos sítios aqui perto, de que somos inconsciente e não pensamos nos perigos. Ri-me. A Avó também se riu. Deu-me a sua benção, disse que gostava muito de mim e que ia ter saudades. Ainda lhe liguei da Tailândia. Mas não sabia que, quando voltasse, não ia encontrar as mesmas brincadeiras, o mesmo abraço quentinho, os mesmos olhos provocatórios, o mesmos sorriso rasgado. Estava ali, mas não estava. Não era a minha Avó. Dessa, eu recordo tudo. A essa, eu disse tudo e afirmei e sublinhei todo o meu amor, gratidão e admiração. Agora, vejo-a, visito-a, deito-me ao seu colo, dou-lhe festinhas na cara e brinco como sempre. Mas sei que não me reconhece. Se calhar, reconhece o toque, mas não me diz.
Valeu-me que dissesse o meu nome no outro dia, o que me fez chorar. E levo, também, o último Domingo em que fui lá e olhou com os mesmos olhos de piadolas que, um dia, já lhe foram tão característicos.
Hoje, querida Avó, lá estarei na sua festa de anos. Com mais colo, abraços, beijinhos e olhares. Muitos Parabéns. Não por este ano de vida, mas pela quantidade de anos que viveu tão intensamente. E que saiba, que é a pessoa mais marcante, influente e importante na minha vida. Gosto muito de si.

quinta-feira, 24 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

muito poucos percebiam a forma como decidi chegar ao casamento

mas, a verdade, é que há alguém que sabe explicar a coisa de forma, mais ou menos, clara:

"O que é a experiência? Nada. É o número dos donos que se teve. Cada amante é uma coronhada. São mais mil no conta-quilómetros. A experiência é uma coisa que amarga e atrapalha. Não é um motivo de orgulho. É uma coisa que se desculpa. A experiência é um erro repetido e re-repetido até à exaustão. Se é difícil amar um enganador, mais difícil ainda é amar um enganado.

Desengane-se de vez a rapaziada. Nenhuma mulher gosta de um homem «experiente». O número de amantes anteriores é uma coisa que faz um bocadinho de nojo e um bocadinho de ciúme. O pudor que se exige às mulheres não é um conceito ultrapassado — é uma excelente ideia. Só que também se devia aplicar aos homens. O pudor valoriza. 0 sexo é uma coisa trivial. É por isso que temos de torná-lo especial. Ir para a cama com toda a gente é pouco higiénico e dispersa as energias. Os seres castos, que se reprimem e se guardam, tornam-se tigres quando se libertam. E só se libertam quando vale a pena. A castidade é que é «sexy». Nos homens como nas mulheres. A promiscuidade tira a vontade.

Uma mulher gosta de conquistar não o homem que já todas conquistaram, saquearam e pilharam, mas aquele que ainda nenhuma conseguiu tocar. O que é erótico é a resistência, a dificuldade e a raridade. Não é a «liberdade», a facilidade e a vulgaridade. Isto parece óbvio, mas é o contrário do que se faz e do que se diz. Porque será escandaloso dizer, numa época hippificada em que a virgindade é vergonhosa e o amor é bom por ser «livre», que as mulheres querem dos homens aquilo que os homens querem das mulheres? Ser conquistador é ser conquistado. Ninguém gosta de um ser conquistado. O que é preciso conquistar é a castidade. "

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

domingo, 20 de março de 2011

a ironia do amor

Cheguei a uma conclusão. Cheguei, não, construi... isso de chegar às conclusões é como se elas lá estivessem e nós as descobrissemos.
Esta eu fiz nascer daqui, das horas e dias em que o senhor meu marido passa a trabalhar e eu fico em silêncio nesta casa que já me sabe de cor em tão pouco tempo.
Percebi que aquilo que mais criticamos e mais apontamos como defeitos nas pessoas de quem gostamos, que amamos, mesmo, são aquilo que os torna únicas e que recordamos, mais enternecidos, dessa pessoa. As qualidades também são importantes, é certo, mas essas são replicaveis e, geralmente, traço comum entre as pessoas que escolhemos para nossas.
A minha mãe, por exemplo, fala muito. Fala tanto, fala demais. E repete-se. Mas repete-se como nunca hão-de ver, como um gravador. Tal e qual. Vezes sem fim. E fala alto. E ri-se alto. E passa à frente nas filas. E chama os empregados no restaurante com muita convicção, como se fosse da casa e estivessemos sozinhos. Fartamo-nos de refilar com estas características mas são elas que lhe dão a graça. O meu pai, oh, esse está sempre duas estações do ano à frente. Planeia a Páscoa e Janeiro, as férias do Verão em Fevereiro e, em Maio, o Natal já está combinado. Manda-me emails às 7.30 da manhã, do escritório, e liga-me às 7h, quando vem no carro (convencido que a essa hora eu estou de cara e cabelo lavado, pequeno-almoço tomado, com 3 horas de tese para trás, já fiz o almoço e tenho o jantar no forno). Também tem outra coisa muito interessante: nunca nada está suficientemente bom. Nem quando eu vinha com dezanoves para casa.  A pergunta era por que é que não tinha 20... e adoro isso tudo nele (tanto perguntou pelos vintes que comecei a trazê-los!). Mas não posso dizer, porque é um bocado parvo e reforçador dizer o quanto adoro os defeitos que aponto a cada um dos que me ocupam o coração. É irónico, não é?
Podia falar dos meus irmãos (muita tinta correria), das minhas melhores amigas (únicas e irrepetíveis que só elas), dos meus amigos (homens, que tenho poucos, mas que são os melhores) ou do meu maridaço.
Sim, do marido podia falar e teria muito para dizer. Partiria do seu bom humor constante que me irrita e dá cabo das manhãs sossegada e noites tranquilas, da sua necessidade de ajudar os outros e que isso esteja à frente do seu e do nosso tempo e bem-estar, da sua entrega à nossa relação que me faz sentir minúscula e pouco merecedora, do seu esforço para ser a "dono de casa" perfeito e mostrar que o faz por amor... tudo isso me irrita, mas tudo isso me faz querer que esteja sempre aqui.
A ele, à mãe, ao pai, aos manos, às amigas e aos amigos. E a todos os que me ensinam da maneira mais eficaz: através do exemplo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

é por isso que viver dá adrenalina

Quer dizer, o isso é uma palavra pouco apropriada. Não é só um isso, são muitos issos.
Tanta coisa que faz com que o coração acelere que nem um louco.
São as memórias do passado, são as incertezas do futuro, são as loucuras do presente.
São beijos roubados, são abraços demasiado apertados, são momentos em que se espera que o telefone toque. São as dúvidas, ah! as dúvidas. Isso de só no fim sabermos se andamos a fazer o que está certo, de só mais à frente vermos os frutos, de termos de optar por coisas tao diferentes mas igualmente apetecíveis.
E o calor. Um calor que não se sabe nem se explica, mas só se sente. Esse de quando os nossos irmãos desabafam, de quando os nossos pais nos ralham, de quando os nossos amigos se mostram presentes a mil kilometros de distância. O calor de um recado em cima do microondas. O calor do sorriso de alguém que não conhecemos mas se mostra agradecido. O calor é muito bom, e também dá adrenalina.

e, ao contrário de ontem,

que foi cheio de emoção (! pirosa), hoje fico aqui calminha como deve ser!

Hei-de contar tudo, a seu tempo que o segredo é a alma do negócio!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Hoje é dia de proactividade

Certo é que há por aí muita gente mesmo "à rasca" e com algumas boas razões para se queixar.
Dito isto, e devidamente salvaguardada por essa excepção, eu cá sou muito pragmática e, às vezes, bruta como as cabras, e acho que maior parte dos que se encontram nessas situações é juventude muito acomodada, muito cheia de mimo e crente de que, um dia, o trabalho vestido de fato macaco toca à porta e traz confetis.
Eu sei, porque ando há muitos anos no meio deles, que os jovens não estão habituados a pensar no futuro. É assim, é mesmo assim. Saem do 9º ano muito contentes pelos anos de liceu que os esperam e, em vez de pensar na área que querem, pensam na liberdade que vão ter, no facto de já poderem entrar nas discotecas e no dia em que perdem a virgindade.
Depois chega o 12º, é o ai Jesus que os exames nacionais estão aí, que eu já não vou a tempo de fazer um curso de que goste e possa ser feliz no futuro, foi o 10º ano que me estragou a média. Os que não têm dinheiro vão para um curso qualquer numa faculdade pública e serão frustrados o resto da vida (ou, como sempre acontece aos que precisam de ser fortes, dão a volta por cima e se engrandecem), os que estão forrados dele, escolhem o cursinho como quem escolhe as entradas num restaurante, e os pais pagam religiosamente uma faculdade privada onde, regra geral, os seus filhos passam o dia a jogar matraquilhos ou à sueca, no bar, aquecidos por SuperBock´s fresquinhas.
E é assim, passam os anos (e sabe-se lá o que fizeram ao conceito de Bolonha e os cursos de 3 ou 4 anos), a adorar a ideia de casa, cama e roupa lavada, fazendo uma cadeira aqui e outra ali. Depois, claro, admiram-se.
Acabam o curso e percebem que na, na, ni, na, não que o mundo não é assim, não é para meninos. Que o tempo de absorverem dos professores, de ter discussões interessantes com colegas, de encher o curriculum com workshops e conferências, de pensar sobre as coisas para se poder aguentar taco a taco numa discussão, esse tempo já lá vai.
O pior é que, mesmo compreendendo isso, não se espevitam, não desatam a bater as capelinhas, não vão a todas as portas oferecer-se e oferecer coisas novas. Não olham para o mercado, não estudam as empresas onde vão e, por isso, fazem propostas estapafurdias, não oferecem nada de novo... e não percebem que, nesse tempo de limbo, não faz mal nenhum ir trabalhando numa qualquer Zara a dobrar a roupa pelas vezes todas, da sua vida, que não fizeram em casa.

Eu sou das que não se acomodam, das que passou o curso todo entre workshops, congressos e conferências, com a lata para mandar emails a investigadores de psicologia muito conhecidos e receber respostas de volta, a meter-me nos projectos dos meus professores que me faziam, ao Sábado de manhã, ir para Mira Sintra fazer avaliação psicológica a crianças de 5 anos desde o 3º ano do curso só porque sim, para ter experiência. Sou das que trabalhava de manhã, antes de ir para as aulas a distribuir panfletos para trazer 10 euros no bolso, das que entregava pastas e crahás em congressos e, depois de estar tudo nas suas salas, tirava da carteira os artigos e estudava ali mesmo. Sou das que manda emails a fazer propostas, a arriscar, a que mostra, com convicção e plena consciência de que é justo que seja paga pelos serviços que presto porque sei, e foi para isso que trabalhei, são de qualidade.

Hoje é um dia desses. Mais um passo, mais umas capelinhas, mais boas novidades, mais horas que não vão ser perdidas mas, sim, ganhas por me ir mostrar, por fazer notar que estou aqui, que cheguei para ficar e que ainda vão ouvir falar muito de mim.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Se há coisa que me eleva...

é andar de carro à noite... passar por prédios e mais prédios e ver luzes acesas. Perceber onde fica a cozinha e a sala... tentar descobrir formas e definir silhuetas. Adivinhar o que estarão as pessoas a fazer e sonhar que lá dentro vivem famílias felizes.
Perceber que há centenas de maneiras de se fazer as coisas, de se viver, de se amar e ser feliz. Que nem toda a gente vive como eu vivo. onde eu vivo e com o que eu vivo.

Desde pequenina que me fascina andar de carro à noite.

terça-feira, 15 de março de 2011

estou numa excitação tal

que não consigo escrever nada, houve respostas ao email... só espero ter boas novidades em breve!!

ps- nada a ver com crianças na barriga, por isso podem ir-se acalmando.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Da anestesia dos dias

Lembro-me que estas coisas vieram à minha cabeça pela primeira vez aos 15 anos, quando tirei a licença de mota. Andava eu para a frente e para trás, entre o liceu e casa, esticava-me e ia até ao Oeiraspark ou mesmo Carcavelos. E havia dias que eu pensava: "como é que eu estou a guiar isto?"... não sabia. Chegava ao fim, tirava o capacete e pensava que não me lembrava de, no trajecto, ter pensado sequer uma vez em "agora travo, agora acelero, cuidado ali". Depois tirei a carta de carro. O mesmo se passava. Havia dias que saía tão cansada da faculdade que nem ligava o rádio, de tal maneira vinha adormecida. E depois chegava a casa e era como se tivesse ido drogada até ali. Perguntava à minha irmã "também te acontece, às vezes, chegar a casa e não saberes como?". Ela dizia que sim, que às vezes também nem pensava no caminho.
Foram estas duas coisas que me enviaram para estes pensamentos e a perplexidade perante a quantidade de coisas que, no dia-a-dia, fazemos de forma automática (para não dizer automata). Há gestos, conversas e trajectos que já fazemos como rituais e sem a mínima consciência do que estamos a fazer. E não falo de tiques ou defeitos (esses coitados, lá nos levarão toda uma vida para eliminar) falo de actividades do dia-a-dia em que colocamos zero da nossa alma, em que nos embrenhamos noutros pensamentos, maior parte das vezes vazios de conteúdo, e vamos passeando pelos dias assim.
Lembrei-me de escrever isto porque ainda na 6ª aqui estava eu, na dúvida se tinha lavado a loiça ou não (e tinha) e se tinha feito a cama ou não (e tinha)... foram coisas que fiz sem me lembrar e não gosto disso. Não gosto de sentir que não estou eu toda, a 100%, em algumas coisas que faço. Gosto de pensar que me entrego, mesmo nas mais pequenas do dia-a-dia, porque é através desses pequenos gestos que vamos construindo a nossa grandiosidade e, ao entregarmos aquilo que é mais curriqueiro e aparentemente sem valor, aprendemos a tirar da vida o que faz sentido e não ficarmos à espera daquilo que é enorme e nos assola para nos activar e fazer reagir.

domingo, 13 de março de 2011

sobre a força de vontade

Há momentos da minha vida em que tenho de ser mais forte do que eu própria e ignorar aquilo que a experiência me diz. Claramente que esta história da tese está a ser uma grande provação e preparação para o futuro. Mais pareço uma amiga minha que está em medicina e tem de se preparar para o exame da especialidade (não é J?)...  ter um prazo [aparentemente] tão alargado está aqui a baralhar-me o esquema. É que, por um lado, há a questão da incerteza da vida e dos desvios e obstáculos do caminho e, por isso, mais vale ir adiantando enquanto tenho tempo. Mas, por outro, há em mim uma calma estupidamente incapacitante que me diz que vai haver tempo de sobra, que tudo se faz, que quando estiver sentadinha e concentrada faço tudo de enfiada e que vai dar imenso jeito a coisa da pressão do tempo.

Enfim, vou mas é para ali ganhar balanço e fazer qualquer coisinha, umas dez linhas, vá. Para ver se entrego em primeira fase e tenho o mês de Outubro para ir viajar com o meu querido marido.

sábado, 12 de março de 2011

Já não aguento

Entrar no facebook e ver albuns a dizer "Carnaval 11", "Carnavélius", "Carnavalis" and so on...

sexta-feira, 11 de março de 2011

47

São os dias que nos separam da Páscoa. Bem, agora são 45, que a Quaresma já começou na 4ª feira.
Para muitas pessoas, quase a maioria, é incompreensível o que esta época significa para nós, católicos, os praticantes. Sim, porque maior parte da população diz-se católica não praticante, o que eu não sei bem o que isso quer dizer.
O que eu quero dizer é que, para aqueles que sentem a correr nas veias um profundo amor a Jesus, vivem esta época do ano como a mais forte de todas. Mais do que o Natal.
E à pergunta que uns tantos me fazem, com ar de que eu aterrei agora vinda de Marte. "Mas o que é que vocês fazem na Quaresma?" (este vocês mata-me, é como quem diz essa cambada desmiolada).
Então eu explico: nós, ou eu, procuro viver estes dias com toda a calma e serenidade interior que me permita chegar ao dia de Páscoa (que significa renascer, renovar, transformar) uma pessoa diferente. É a altura do ano ideal para um frente-a-frente comigo mesma, em que encaro a frio tudo aquilo que reconheco fazer errado, fazer a metade, não fazer. E encontrar a força e a vontade de reunir esforços e me superar. Porque houve alguém que, um dia, por acreditar em mim, em Nós, escolheu entregar a sua vida. E, tal como quando acompanhamos algum familiar ou amigo na dor e num caminho penoso não temos vontade de grandes festejos e loucuras, também este tempo é vivido com moderação, a necessária para receber toda esta grandiosidade simbólica no meu coração.

quinta-feira, 10 de março de 2011

fazer figas

Enquanto espero duas respostas muito importantes que me podem trazer óptimas novidades!!

quarta-feira, 9 de março de 2011

sim, é verdade. Mas saber ganhar, ficar, insistir, aceitar também é uma arte.

Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a dizer.

E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração bater desordenadamente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade.

Às vezes é preciso partir antes do tempo, dizer aquilo que se teme dizer, arrumar a casa e a cabeça, limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto, acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto, apertar as mãos uma contra a outra e rezar a um deus qualquer que nos dê força e serenidade. Pensar que o tempo está a nosso favor, que o destino e as circunstâncias se encarregarão de atenuar a nossa dor e de a transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim.

Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizémos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor. Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.

Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio e paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar.

Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer.




segunda-feira, 7 de março de 2011

Faz-me espécie, pronto(s)

Cozinho. Menos do que gostaria, mas mais do que os meus genes foram programados para fazer. A minha mãe orgulha-se, de peito cheio, dos seus ovos mexidos e eu, pequena traumatizada com os serões a esparguete com natas e fiambre, dei o murro na mesa e dediquei-me aos tachos.

Relaxa-me, evade-me, exige-me esforço e tempo e eu adoro. Quando casamos ofereceram-nos a Bimby. Não sou quadrada, nem nunca fui, e por isso procuro perceber que benefícios posso retirar dali sem que se evapore o gosto que tenho por acrescentar aqui e ver no que dá ou fritar o pirolito porque está a faltar qualquer-coisinha-que-ainda-não-percebi-o-quê.

E tenho descoberto que a maior das vantagens é que possamos ter (praticamente) todos os acessórios de cozinha num só, o que significa menos coisas para lavar.

E fico irritada quando as pessoas perguntam: "Foste tu que fizeste ou a Bimby?". Han?? Desde quando é que um acessório faz as coisas?

É exactamente o mesmo que antigamente perguntassem "Quem é que fez a sopa? Tu ou a varinha mágica?"

domingo, 6 de março de 2011

A forma como lidamos com as coisas

é o que temos de mais parecido com uma janela para a nossa alma.

sábado, 5 de março de 2011

e ontem nasceu um pequeno trauma

O programa era ir ver a casa nova que os nossos amigos noivos vão alugar. Não tem nada dentro, por isso já se sabia que era sentar no chão e ficar no jardim. Levaram cerveja, bolachas, batatas e amendoins. Então eu saí de casa devidamente equipada: sem carteira, telemóvel no bolso do meu blusão preto e quentinho, camisola quente, ainda que gira, calças de ganga e botas rasas, pelo joelho.
Tudo correu muito bem e como planeado. Até que decidimos ir beber um copo e dar um pezinho de dança. Asneira. Transformou-se numa noite até às tantas, numa disconight muito central e concorrida, em que cada movimento da minha cabeça correspondia a encontrar alguém que eu conhecia.
E eu ali, vestida da mesma maneira de quem vai só ali colher flores e apanhar os ovos para o almoço.

Senti-me tipo aqueles índios ou as pessoas que nunca viram a civilização. Ir à casa-de-banho era um ataque à minha pessoa: eu ali, na fila, a ser olhada como uma estranha por miúdas cujos traços eram irreconhecíveis tal era a maquilhagem e que, se desse o caso de se baixarem, ficariam com as traseiras muito expostas, com os cintos que levavam a fazer de saias.

Foi uma noite gira, mas mais uma daquelas que me faz pensar acerca das razões que podem levar alguém a transformar-se só para entrar numa discoteca e ser visto na noite. E aquele ar de que andam à caça, com olhos fatais em busca das presas.

sexta-feira, 4 de março de 2011

se há profissão...

... em que é fácil compreendermos as limitações da nossa actuação (para além da medicina) é esta de ser psicóloga a trabalhar com crianças.
Chego a casa todos os dias com esta sensação de quem tapa o sol com a peneira, de quem, em vez de arranjar o cano, tapa o buraco com uma tampa, ou de quem limpa as formigas que invadem a casa com um pano e rapidamente se apercebe que lá estão elas outra vez, a sair por todos os lados.
É que, cada dia em que entro naquela escola e oiço, de porta fechada, a professora lá dentro a gritar e chamar estúpidos aos alunos, penso em que como devia suspender todas as minhas consultas, fazer sinal à porta da sala, levar a senhora professora à parte e chamar-lhe os mesmos nomes que chamas a todos os seus alunos. Se não me aguentasse dava-lhe umas reguadas, à moda antiga, mas depois revestia-me de paciência e explicava como é que estas coisas das crianças funcionam.
E, então, quando toca as quatro e meia, e vejo os paizinhos ali à porta, a recolher a carga, a ouvir as queixas das professoras e a dar calduços, a dizer que são a vergonha deles e que quando eles chegarem a casa é que vão ver o que é doce, sobe-se-me cá uns calores. E vê-los a ameaçar de morte as vigilantes e depois ficarem muito espantados por os filhos resolverem tudo à pancada? Cruzes, pensem, minha gente. Pensem.

Enfim, pequeno desabafo matinal, para me revestir de força mental e compreender que embora não mude, nem seja esperado isso de mim, toda a realidade da criança, tenho de fazer tudo o que está ao meu alcance para que consiga enfrentar esse seu mundo de uma maneira lúcida e capaz de fazer o devido filtro ao que absorve dos pais.

quinta-feira, 3 de março de 2011

fazer o que está certo

sempre, sem vacilar, é uma estafadeira e não estou assim tão certa que compense.
Quer dizer, não que agora passe a ser uma bad girl mas é que, ás vezes, o espaço para a loucura, para o irracional, para o espontâneo é mais pequeno que uma agulha.
E não é só com essas linhas que me quero coser.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Do fim-de-semana ficou a certeza de que é possível apaixonarmo-nos de novo, todos os dias, pela mesma pessoa e por coisas diferentes que estavam escondidas, mal nós sabemos onde. Ou então não estavam escondidas, simplesmente não existiam, e surgiram desta capacidade que temos de sempre nos reinventarmos, de nos ultrapassarmos e regenerarmos. Por amor. Porque o outro estimula isso em nós e porque não queremos que viva com este "eu" que achamos, todos os dias, ainda tão imperfeito. Quer dizer, há algumas pessoas que se acham perfeitas, mas essas precisam de mudar essa crença quando encontrarem o amor, porque assim não lhes será possível perpetuar a felicidade tão característica de quem se olha pela primeira vez, de quem faz de cada toque e abraço o primeiro de todos os que se quer para uma vida.

Do fim-de-semana ficou, também, este reconforto no coração de que, se nada mais existisse, só o seu amor me bastava. E um estalo na cara que me apetece dar de todas as vezes que, por culpa da exaustão dos dias, o empurro e rejeito os seus abraços e beijos desenfreados e grito muito descontrolada "importas-te de me deixar fazer o jantar que quero ver se me despacho?".

Desta semana, que vai a meio, fica-me a compreensão de como é fácil esgotarmo-nos e dar tudo de nós quando o levantar de manhã é movido pela profunda paixão ao que se faz, pela luta que travamos com a vida, a história e o tempo para que as caras que nos falam de lágrimas nos olhos, possam sorrir e vê-las secar. E todo um nó se nos dá na barriga quando marcamos uma reunião com uma mãe, conscientes de que nenhuma está preparada para ouvir dizer que o seu filho vai ser encaminhado para psiquiatria e lhe esperam algumas noites mal adormecidas.