Desde que o homem é homem que há a consciência de que há algo para além do comportamento visível. E talvez tenha sido isso que foi empurrando a Psicologia no sentido de se desenvolver e construir como ciência, que é.
Mas parece que quando somos jovens só o que se vê é que existe. E tenho para mim que é essa insistência em só acreditar e seguir aquilo que podemos ver e tocar que faz com que, tantas vezes, nos contentemos com respostas vagas e, na maioria das vezes, nem as procuremos.
Assim, fui aprendendo a passear por entre os livros e as gentes, na busca do que não está escrito, nem dito, nem expressado. Procuro, hoje em dia, o que se anseia esconder, o que se procura disfarçar, o que se prefere calar. Porque são essas coisas que revelam essências, são essas coisas que vão mais fundo e nos desnudam.
E depois há aqueles dias em que penso nisto tudo mas faço a ponte com esta minha (quase) profissão. É que às vezes não calamos, escondemos ou disfarçamos deliberadamenre. Estou consciente de que quando os pacientes chegam à psicoterapia não têm uma perspectiva organizadora e adaptativa em relação ao seu problema porque foram, simplesmente assim, passando pelos anos exibindo uma forma de funcionar que se lhes revelava útil nas relações (com os outros, mas sobretudo consigo).
Mas, esquecem-se, adaptação tem a ver com a sobrevivência, desenvolvimento e bem-estar. Mas quando não somos genuinos não alcançamos o bem-estar. E sem bem-estar, ninguém sobrevive.
E com tudo isto, hoje compreendo que não há, nem tem de haver, pressa para ver os resultados em psicoterapia, que o funcionamento psicológico que mais nos faz ressoar são as emoções: os meus pacientes vão sentir-se tão mais compreendidos quanto mais as suas emoções forem, por mim, ressoadas, que o importante é mostrar que tudo é conversável e, assim, conquistar a sua confiança e assegurar que há condições para que dois eu´s se tornem num nós em que a minha emocionalidade pode e deve guiar-me nas minhas decisões terapêuticas.
Porque a terapia é feita a dois e porque o resultado final da terapia é o acumular de todas as micro-mudanças que vão acontecendo ao longo do processo, hoje sei que cada caso é um caso mas não é mais um caso. Faz a diferença, faz uma diferença.
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