segunda-feira, 8 de novembro de 2010

uma vez na faculdade...#2

No forum de uma cadeira, acerca do suicidio e se este será o maior desafio dos psicólogos, disse assim:

Não sei se a questão do suicídio será a situação mais desafiante que o clínico encontra ou aquela que lhe provoca mais medo. É como se tudo aquilo que não vemos ou não sabemos se torne muito fácil de suportar, enquanto só a ideia de passarmos a ser cúmplices de uma intenção como esta nos torne, de repente, tão fracos e impotentes ao mesmo tempo que tão responsáveis. Como se a nossa função, como clínicos, fosse entregar (como que por magia) de mão beijada uma razão válida para que a pessoa não acabe com a sua vida.

Não posso deixar de dizer que achei uma certa piada (relativa, claro) ao ser referido, na questão, que o suícídio é um acto potencialmente irreversível. Bom, o acto em si, até agora, é mesmo irreversível. Para nós isto é tão claro, não é? "já viu que depois não há como voltar atrás?"... o que nos esquecemos, tantas e tantas vezes, é que o que parece irreversível para aquela pessoa, naquele momento, é a dor. Aquela que lhe aperta o peito e torna tão difícil respirar.

A minha questão será mais esta: até que ponto conseguimos ser suficientemente bons, neste tipo de problemática, a eliminar o sintoma? Até que ponto é que não vem ao de cima tudo o que são questões que se relacionam com a nossa necessidade de nos sentirmos competentes e, neste caso, o sucesso e competência, se transformam num aumento de dias de vida? É que a mim não me interessa que aqueles que se cruzam comigo não se matem só enquanto eu lhes dedico tempo. Eu queria, mesmo, que fosse suficientemente eficaz para que a pessoa consiga alargar o seu leque de soluções e, subitamente, a de se matar passe para último da lista.

Mas... se a dor for tão grande, e estar vivo não for, para aquela pessoa, viver mas sim arrastar-se pelos dias, que tipo de psicoterapeuta serei eu se, sem me consultar e resolver, sem me entender e encontrar o meu próprio sentido da vida, pedir que a pessoa na próxima semana esteja ali, à mesma hora e no mesmo local?

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