domingo, 20 de março de 2011

a ironia do amor

Cheguei a uma conclusão. Cheguei, não, construi... isso de chegar às conclusões é como se elas lá estivessem e nós as descobrissemos.
Esta eu fiz nascer daqui, das horas e dias em que o senhor meu marido passa a trabalhar e eu fico em silêncio nesta casa que já me sabe de cor em tão pouco tempo.
Percebi que aquilo que mais criticamos e mais apontamos como defeitos nas pessoas de quem gostamos, que amamos, mesmo, são aquilo que os torna únicas e que recordamos, mais enternecidos, dessa pessoa. As qualidades também são importantes, é certo, mas essas são replicaveis e, geralmente, traço comum entre as pessoas que escolhemos para nossas.
A minha mãe, por exemplo, fala muito. Fala tanto, fala demais. E repete-se. Mas repete-se como nunca hão-de ver, como um gravador. Tal e qual. Vezes sem fim. E fala alto. E ri-se alto. E passa à frente nas filas. E chama os empregados no restaurante com muita convicção, como se fosse da casa e estivessemos sozinhos. Fartamo-nos de refilar com estas características mas são elas que lhe dão a graça. O meu pai, oh, esse está sempre duas estações do ano à frente. Planeia a Páscoa e Janeiro, as férias do Verão em Fevereiro e, em Maio, o Natal já está combinado. Manda-me emails às 7.30 da manhã, do escritório, e liga-me às 7h, quando vem no carro (convencido que a essa hora eu estou de cara e cabelo lavado, pequeno-almoço tomado, com 3 horas de tese para trás, já fiz o almoço e tenho o jantar no forno). Também tem outra coisa muito interessante: nunca nada está suficientemente bom. Nem quando eu vinha com dezanoves para casa.  A pergunta era por que é que não tinha 20... e adoro isso tudo nele (tanto perguntou pelos vintes que comecei a trazê-los!). Mas não posso dizer, porque é um bocado parvo e reforçador dizer o quanto adoro os defeitos que aponto a cada um dos que me ocupam o coração. É irónico, não é?
Podia falar dos meus irmãos (muita tinta correria), das minhas melhores amigas (únicas e irrepetíveis que só elas), dos meus amigos (homens, que tenho poucos, mas que são os melhores) ou do meu maridaço.
Sim, do marido podia falar e teria muito para dizer. Partiria do seu bom humor constante que me irrita e dá cabo das manhãs sossegada e noites tranquilas, da sua necessidade de ajudar os outros e que isso esteja à frente do seu e do nosso tempo e bem-estar, da sua entrega à nossa relação que me faz sentir minúscula e pouco merecedora, do seu esforço para ser a "dono de casa" perfeito e mostrar que o faz por amor... tudo isso me irrita, mas tudo isso me faz querer que esteja sempre aqui.
A ele, à mãe, ao pai, aos manos, às amigas e aos amigos. E a todos os que me ensinam da maneira mais eficaz: através do exemplo.

6 comentários:

  1. Tentei lembrar-me de um defeito teu e não consegui. Mas talvez seja por isso mesmo que tu disseste...aprendemos a gostar das pessoas pelo todo e são também os seus defeitos que as tornam tão especiais. Beijinho pombinha!

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  2. Sweet dove, adoro saber que andas por aqui! Que saudades!! Vai sair um lanchinho contigo e com a Carranca, que encontrei noutro dia!

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  3. Obrigada pelos momentos maravilhosos que passo a ler o que escreves! Todos temos defeitos e virtudes, mas na realidade o que nos torna diferentes são mais os defeitos que as virtudes.
    No entanto quandos amamos alguém, amamos as virtudes, mas também os defeitos. Acontece com os pais, os filhos, o marido/esposa e os amigos.
    O mais importante é que o balanço esteja sempre positivo. Beijos e já agora, depois de tantos lanchinhos combinados para quando o meu fim de semana??????MMR

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  4. Oh querida Tia, obrigada por vir e sempre comentar, muito alento me dá. E tem toda a razão, temos mesmo de combinar o nosso fim-de-semana. Quando o D. não trabalhar e eu me sentir com a consciência minimamente tranquila em relação à tese, fazemos o nosso saquinho, jejum durante três dias para compensar o bem que se come para esses lados, e iremos!!

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  5. É tão bom estarmos no meio do nosso dia e ler palavras que nos colocam um sorriso enternicido no meio da cara! E devo dizer-te que acho brilhante a forma como a tua cabeça exprime o que o teu coração sente!

    Não duvides que és um Exemplo, apesar de inúmeros defeitos que possas ter! E fica descansada que eu terei muitos mais do que tu!!

    E isto é a parte fascinante do teu texto... Mais do que saber, sentir que gostamos tanto uma da outra apesar de tantas coisas "erradas" que se possa fazer! Irónico? Talvez! Mas acima de tudo DELIRANTE!!!

    B.

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  6. Epah, onde é que eu estava com a cabeça para escrever enternecido com I?????

    Bem, deve ter sido o meu inconsciente a errar de propósito!!

    Beijinhoooos B.

    Ah! Apesar de não ser deste texto aproveito para te dizer que estou tão feliz por ires ser madrinha pela primeira vez!!!

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