segunda-feira, 26 de março de 2012

Cheios de tempo

e se pensarmos que o tempo é dinheiro ou que o dinheiro seria tempo? Quereriamos ter todo o tempo do mundo? Viver sem pressa mas, simultaneamente, sem aproveitar cada segundo?
O filme que vi ontem (In Time) fez-me pensar nestas coisas...muito para além do seu enredo, claro está... e se o preço a pagar pelas coisas fosse tempo? Eu, que tenho 100 anos de vida, comprar-te-ia a ti, lojista com mais 5 anos de vida, uma camisola por 2 dias. O que faria eu com tantos anos e o que farias tu com mais esses dois dias?

O que provoca em nós a sensação de que tudo isto um dia se vai? Faz-nos actuar? Faz-nos reagir?
Este meio caminho em que nos encontramos, esta decisão tramada entre trabalhar o máximo que conseguirmos para receber o máximo de dinheiro que pudermos na crença de que a qualidade de vida que compraremos com esse dinheiro nos aumentará o número de dias faz com que tantas e tantas vezes nos esquecamos de aproveitar as horas, que sem sabermos são tão poucas, temos para realmente Viver.
Não tendo nada a ver, eu sei, porque todos são diferentes e se encontram a si próprios com coisas diferentes, a experiência de saltar de um avião foi mais do que uma experiência em si, mais do que um riscar qualquer coisa da lista dos sonhos. Foi sentir-me viva. Sentir que este tempo que passarei neste mundo não é, e garanto que nunca será, passado como vejo tanta gente à minha volta: quase como autómatos: acorda-se para trabalhar, acaba-se de trabalhar para ir dormir. No meio há o mesmo de sempre, veste filhos, leva à escola, fuma-se cigarros, chega-se a casa, banhos, jantar, cama e nós no sofá de pijama a sentir que merecemos esse descanso e esquecendo que o tempo, esse, dá para mais. Dá para um passeio no jardim, para o desvio a caminho de casa e ver-se o mar, ou as árvores da avenida da liberdade. As duas horas que separam o jantar da cama podiam ser ocupadas com um amigo que nos visita e a quem podemos servir apenas chá.
Ontem, nos 90 anos da minha Avó que parou no tempo aos 87 quando teve um AVC e ali se mantém deitada pensei nisto. E se o tempo parasse? O que teríamos acumulado em nós? Sim, em nós, não na conta do banco.
Fui à Missa das 22h na Baixa porque não consegui ir antes. E soube-me bem a manga curta na Rua Augusta, o arco iluminado, dar a mão ao meu marido. Quis pendurar-me no seu pescoço e fazê-lo rir por tentá-lo beijar em frente a turistas enquanto ele, envergonhado, tentava afastar-me.
Mas eu quero lembrar-me destas coisas, das ruas de Lisboa quentes à noite, dos nossos passos em sintonia, desta sensação de que o tempo passa devagar porque o que precisamos é exactamente aquilo que temos: a nós mesmos e às experiências que nos vão construindo.

Sem comentários:

Enviar um comentário