quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sim, isso pega-se

Perguntou o adolescente em terapia se achava que era possível que, por os pais serem tão infelizes e viverem uma vida tão descabidamente infeliz, se também ele poderia acabar assim.

Sim, claro que sim. É bem possível. A infelicidade pega-se. Mas também tem a vantagem de ser uma daquelas doenças para os quais somos possuidores preciosos da cura. Está em nós a decisão de apanharmos a doença da infelicidade ou, pelo contrário, nos colarmos bem coladinhos aos ditos felizes. Porque a felicidade também se pega.

Por isso, sim. Corres o risco de ser infeliz como os teus pais. Mas só se achares que está certo repetir as coisas que eles fizeram, se deixares de fazer o que eles deixaram de fazer e por fazer, se te acomodares como eles, se perderes tempo com as coisas que não são importantes, se criticares mais do que elogias, se gritares mais do que cantas. Se olhares menos para os olhos das pessoas com quem falas. Se deixares de dizer bom dia às pessoas. Se acreditares que o valor das pessoas se mede por outras coisas sem ser pelo que elas são capazes de dar de si, se olhares a outro saldo sem ser o do amor que cada um tem para dar.
Por isso, olha, sabes que mais? Tu não serás infeliz como os teus pais. Porque tens em ti a capacidade de aprender e já viste que viver desligado não te serve.

E fiquei eu a perguntar-me como é que pessoas adultas, inteligentes, cultas e com histórias de vida minimamente equilibradas se transformam em seres incapazes de amar?

1 comentário:

  1. Já pensaste que essas pessoas adultas, inteligentes, cultas e com histórias de vida minimamente (aparentemente) equilibradas são incapazes de amar porque (aparentemente) nunca foram amadas?

    ResponderEliminar