domingo, 21 de novembro de 2010

sobre ser mãe

É certinho como depois de hoje ser amanhã, que depois dos parabéns pelo casamento vem a pergunta: "e bebés, para quando?"

E depois vem a necessidade de respondermos.

Mas...calma lá... essa não é uma pergunta íntima demais?? É que se calhar, como os bebés se podem ver e tocar acabam por confundi-los com outras coisas e objectos. É como se perguntassem "Então e quando é que estão a pensar comprar um carro?", "Então e para onde é que gostavas de ir trabalhar?", "E quando é que gostavas de ir dar a tal volta ao mundo?"...

Acontece que decidir mudar o nosso papel para sempre, subirmos um lugar na hierarquia, mudarmos o nosso sentido e dever de responsabilidade, decidir trazer uma vida ao mundo, fruto do nosso amor e da nossa entrega, cuja boa formação e educação dependerá de nós e cujo bom crescimento e desenvolvimento depende da nossa estabilidade a todos os níveis, não é uma coisa banal, indiferente e superficial como as outras.
Ninguém pergunta ao outro "e perder a virgindade, é para quando?", "e passar a ires confessar-te quando é?" ou outras coisas que tais, em que sentimos a janela da nossa intimidade escancarada.

Mas depois nós, jovens e indefesos casais, a achar que temos alguma coisa a provar ao mundo, como a nossa capacidade de sustentar e manter uma casa, e ainda mais de sustentar e manter a nossa relação, vemo-nos a responder.
Como se uma coisa dessa dimensão devesse ser falada assim, com prazos, datas, limites e períodos de carência de seguros de saúde. Claro que temos um ideal de timmings para a nossa vida. Claro que nos sabe bem os dias que dormimos até à uma da tarde, mas dar um prazo para essa vida é tão ridiculo como marcar uma data para encontrarmos o amor.

E depois parece que se os bebes vierem antes desse prazo, por algum desígnio do destino, não serão tão amados como os outros, feitos ao dia e à hora marcada. Pelo contrário. Serão muito amados e muito benvindos como qualquer boa surpresa que nos fazem quando menos esperamos.
Mas, pior, é quando o prazo se alarga, e eles teimam em não aparecer. E depois desata a crescer, dentro de cada um, um sentido de impotência e de incapacidade. Porque toda a sociedade espera a sequência lógica namoro-casamento-filhos, e se eles não aparecem então se calhar não seremos assim tão bons e esta coisa maravilhosa que somos nós enquanto casal começa a ser posta em causa e a deixar-se fragilizar por comentários, perguntas e olhares de quem não tem a mínima noção de que as coisas íntimas são para ficar na intimidade.

Por isso é assim, eu e o meu D. estamos muito felizes e queremos continuar a crescer como casal na nossa intimidade, no conhecimento um do outro e na capacidade de saber estar sozinhos. Ainda nem faz três meses que casamos por isso parece um bocado desesperado todas as perguntas e, ainda mais, ridiculo as apostas à nossa volta. Seremos pais quando tivermos de ser e SE tivermos de ser. Venha quando vier, qualquer um dos nossos filhos terá a certeza de que nasce sobre uma rocha muito forte, uma relação construida de uma forma muito livre e muito sólida que os vai permitir voar e ser eles próprios, sabendo sempre onde voltar.

Sem comentários:

Enviar um comentário