quarta-feira, 17 de novembro de 2010

uma vez na faculdade... #3

foi assim, no mesmo forum, sobre as questões culturais:

Foi muito interessante para mim, enquanto estudiosa de pessoas, ter feito as minhas viagens pela Ásia. Foram muitas as vezes em que me deparei com o pensamento de que seria desempregada se fosse trabalhar para países como o Laos, o Camboja, a Indonésia... isto porque lá, nas inúmeras conversas entre um inglês esquisito e comunicação por gestos, me era dito que pouco ou nada os atormentava para além de se, nessa noite, teriam o jantar para dar aos seus filhos. E isto fez-me compreender o papel que a cultura, em geral, e a sociedade, em particular, têm na patologia das suas gentes. E enquanto poderei reconsiderar esta minha afirmação perante perturbações de causas mais orgânicas, no que respeita à ansiedade e questões fóbicas poucas duvidas me restam. Cada um de nós, desde que nasce, é constantemente bombardeado com um conjunto enorme de expectativas acerca do nosso desempenho, do nosso papel, das nossas relações e reacções. Cada um de nós nasce rodeado de pessoas com certas características, hábitos instaurados, animais familiares... não será expectável que, com mais ou menos intensidade, estranhemos o que não nos é habitual? Pois, é. E enquanto psicólogos seria um atentado à integridade daquela pessoa se não a vissemos como um todo, em que se inclui a sua herança cultural. Porque seria perder muito tempo diagnosticar uma criança do Camboja que se mostrasse receosa perante um relógio que diz as horas em voz alta, enquanto seria preocupante se essa mesma criança tivesse uma reacção exagerada sempre que visse campos de arroz.

Mas nestas questões que envolvem a cultura, a definição do que é normal, ou pelo menos normativo, é um pau de dois bicos. Tanto parece inadaptado aquele que não vai ao encontro do que toda a sua comunidade espera de si (como a mãe que negligencia os seus filhos, o aluno, artista ou atleta que não buscam a perfeiçãop) como também aqueles que acabam por interiorizar de tal forma essas regras e expectativas que não conseguem funcionar de uma forma menos rigida e intrasigente, resultando daí uma enorme ansiedade inerente à necessidade de corresponder aquele que pensa ser o seu papel. O trabalho ao nível das crenças deverá ser feito no sentido de promover maior autonomia do pensamento e auto-conhecimento, auto-estima e descatastrofização: a importância dos significados que damos às coisas e como isso pode ter influência no modo como actuamos e sentimos.

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