sexta-feira, 25 de março de 2011

Querida Avó,

para a Avó, hoje é mais um dia. Igual a todos os dias do último ano e meio. Vai estranhar estar tanta gente ali à volta, por uma casa que não reconhece, mas que é a sua de toda a vida. Vai ficar cansada do barulhão que fazemos. Os seus filhos tão crescidos, já avós, nós os netos desmiolados, alegres, com tanto amor por si, e todos os bisnetos, que não passam dos 6 anos, mas que já são muitos e, infelizmente, não se vão lembrar dessa sua alegria, dessa sua grandeza, da doação de si própria.
Daqui fala-lhe a neta que sempre se intitulou como a sua preferida e que, com estas coisas disparatadas, arrancava gargalhadas e a deixava atrapalhada a tentar explicar-me que não tinha preferidos e que gostava de todos igual, ao mesmo tempo que não me queria deixar triste e fazer-me sentir especial.
Mas, para mim, hoje não é mais um dia. Nem igual aos outros. Este dia faz-me lembrar de todos os outros dias 25 de Março em que ia mais cedo para casa da Avó ajudar a levar as coisas para a mesa, ajudar a Maria a acabar tudo, em que lhe dizia como estava linda por ter ido ao cabeleireiro, em que a esborrachava de beijinhos e dançava consigo.
Eu, querida Avó, tenho muitas saudades suas. Tantas que dói. Tantas que, maior parte das vezes, me esforço por não pensar nisso para que me seja possível ir suportanto a espera do dia em que coração da Avó se vai cansar de estar assim, deitado nessa cama, e percebe que há um sítio melhor onde pode bater.
Quero, hoje, dar Graças pelos seus anos de vida. Por tudo aquilo que me foi dado a aprender e crescer por ter convivido com alguém como a Avó tão de perto, tão intensamente, com tanto amor.
Houve um dia de Julho que me despedi de Avó e disse que ia passear pela Ásia. Ouvi as perguntas e queixumes de sempre, de por que é que precisamos de ir para tão longe com tantos sítios aqui perto, de que somos inconsciente e não pensamos nos perigos. Ri-me. A Avó também se riu. Deu-me a sua benção, disse que gostava muito de mim e que ia ter saudades. Ainda lhe liguei da Tailândia. Mas não sabia que, quando voltasse, não ia encontrar as mesmas brincadeiras, o mesmo abraço quentinho, os mesmos olhos provocatórios, o mesmos sorriso rasgado. Estava ali, mas não estava. Não era a minha Avó. Dessa, eu recordo tudo. A essa, eu disse tudo e afirmei e sublinhei todo o meu amor, gratidão e admiração. Agora, vejo-a, visito-a, deito-me ao seu colo, dou-lhe festinhas na cara e brinco como sempre. Mas sei que não me reconhece. Se calhar, reconhece o toque, mas não me diz.
Valeu-me que dissesse o meu nome no outro dia, o que me fez chorar. E levo, também, o último Domingo em que fui lá e olhou com os mesmos olhos de piadolas que, um dia, já lhe foram tão característicos.
Hoje, querida Avó, lá estarei na sua festa de anos. Com mais colo, abraços, beijinhos e olhares. Muitos Parabéns. Não por este ano de vida, mas pela quantidade de anos que viveu tão intensamente. E que saiba, que é a pessoa mais marcante, influente e importante na minha vida. Gosto muito de si.

5 comentários:

  1. Muitos parabéns para a tua avó. Dá-lhe muitos mimos hoje especialmente :)

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  2. Um valente sinónimo de Amor... Conheço tão bem tudo isto de que falas, nem que mais não seja por saber tudo o que estas palavras significam para ti...

    Esta noite rezarei pelas duas, porque para além do amor que sempre se viu nos olhos de avó e neta, têm também um ponto muito forte em comum... Quererem chegar ao Céu =)

    B.

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  3. Minha querida é com lágrimas que escrevo este post. Senti um misto de emoções ao lê-lo. Estou triste e feliz, é tão esquisito... Triste pois identifico-me contigo, a minha querida Avó Tété está numa situação idêntica. Feliz pois aqui li uma verdadeira homenagem e senti que tal como eu muitos não desistiram da sua família.
    Obrigado *
    Beijinho a ti e dá um beijinho à tua Avó por mim *

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  4. Emocionei-me ao ler a tua linda homenagem. Não é preciso muito, mas...acima de tudo gostei a bonita maneira como o fazes!
    Tenho muitas saudades daqueles que já me deixaram e que tanta falta me fazem, por isso percebo a falta que sentes da avó com quem tanto brincaste e a quem agora dás miminhos!!!!!
    Beijo muito grande por esse teu enorme coração
    MMR

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  5. É incrível como me consegues comover com a naturalidade, amor e sofrimento com que escreves as coisas.

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